O revolucionário e multipremiado arquitecto japonês Sou Fujimoto, 38 anos, defendeu hoje, no Porto que «a arquitectura só terá um papel fundamental no futuro se criar um relacionamento adequado com a natureza»
O arquitecto, que se encontra no Porto para participar no ciclo sobre ‘Cinema e Arquitectura’ que o 29.º Fantasporto organiza conjuntamente com a Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos, no âmbito do qual proferiu uma conferência sobre ‘As Ruínas do Futuro’.
Em entrevista, Fujimoto afirmou que o seu objectivo é «combinar a natureza e a arquitectura, explorar de forma a criar um novo relacionamento entre o interior e o exterior e adaptar a tradição japonesa ao conforto da vida moderna».
«A vida moderna é muito complicada, acho que é preciso que a arquitectura melhore a vida dos cidadãos, oferecendo-lhes formas simples para viver» , afirmou.
Preocupado com a ecologia e as mudanças climáticas, Fujimoto, que gosta de trabalhar a ouvir peças para piano de Bach, acha que «é hora de repensar a matriz da cultura moderna de procurar controlar tudo».
«Se construirmos as nossas casas a pensar no ambiente, numa relação mais íntima com a natureza não vamos precisar de usar tanto o ar condicionado ou o aquecimento» , defendeu.
Fujimoto, que cita entre as suas maiores referências no cinema o realizador clássico japonês Yasujiro Ozu (1903/1963) e filmes como Blade Runner (1982) e Metrópolis (1927), pelas visões do futuro que transmitem, cresceu no Norte do Japão, rodeado de florestas, pelo que a natureza é para ele «fundamental».
O seu ídolo era Einstein e queria ser físico como ele «para poder compreender e intervir nos aspectos físicos do mundo».
«Mas não tive notas para entrar em Física, fui para Arquitectura. Hoje acho que há muitas semelhanças na investigação e na prática nestas duas disciplinas, de certa forma estou também a intervir nos aspectos físicos do mundo» , disse.
Qualifica o seu trabalho como «arquitectura primitiva do futuro», porque procura criar espaços que funcionam como cavernas ou ninhos - os dois estados embrionários da arquitectura - «mas onde tudo está concebido de forma muito funcional e onde, ao mesmo tempo, as pessoas possam usar o espaço de forma criativa».
Privilegia a função sobre a forma e nisso a sua arquitectura aproxima-se muito da escola do Porto de Arquitectura e de Siza Vieira, um dos seus ídolos.
Só que Siza trabalha com betão e Sou Fujimoto trabalha sobretudo com madeira, o material fundamental da arquitectura tradicional japonesa, que procura projectar no futuro.
A sua Next Generation House (Casa para a Próxima Geração) é um cubo de quatro por quatro metros, feito com grossos barrotes de cedro japonês, entrecruzados e dispostos como um puzzle de forma a criar espaços para viver.
«O espaço condiciona o relacionamento entre as pessoas e a arquitectura gere as gradações desse relacionamento. Gosto de criar espaços intermédios e não só paredes que separam espaços e pessoas. Por isso, embora as minhas obras pareçam complexas, por causa da sua forma geométrica, são de facto muito simples» , considerou.
Sou Fujimoto faz sobretudo habitação unifamiliar, mas está agora a construir uma grande biblioteca em Tóquio e fez já vários projectos na área hospitalar. Confessa, contudo, que «as obras mais pequenas e com menores orçamentos oferecem maiores possibilidades criativas».
Le Corbusier e Mies van der Rohe são algumas das suas referências fundamentais, a par de Siza Vieira, cuja obra pôde agora ver ao vivo nesta visita, em que também descobriu o Porto, «uma cidade absolutamente fascinante, maravilhosa e única, no seu relevo forte e na sua tridimensionalidade».
O Porto, que para Fujimoto era, até agora, apenas, «a cidade de Siza Vieira», tem «uma forte relação com o seu entorno físico e adapta-se a ele de uma forma admirável, pelo que tem já em si algo da cidade do futuro».
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