sexta-feira, outubro 12, 2007

III - A Quinta do Paço em Paranhos

O Sr. Horácio Marçal, paixonado investigador de velharias, perguntava outro dia em O Tripeiro se alguémlhe poderia dizer onde está ou esteve localizada a Quinta do Paço, em Paranhos.
Não sei onde fica essa quinta, nem mesmo se ainda existe, mas posso dizer alguma coisa dos seus possuidores desde princípios do século XV.
A propriedade era do senhorio directo do Cabido do Porto, e na primeira metade da era de quatrocentos trazia-a aforada um Afonso Martins, almocreve, passando deste para certa Maria Afonso, que devia ser sua filha.
Foi esta Maria Afonso, mãe de Margarida Afonso, mulher do do cidadão Egas Vasques, mercador; a ambos renovou o Cabido o prazo da Quinta do Paço, por escritura de 17 de Janeiro de 1490.
Egas Vasques e sua mulher viveram na Rua Chã, em umas casas que ela onerou com censo a favor do mesmo Cabido, obrigando-se este a dar-lhes sepultura na Sé e a rezar-lhes certas missas por suas almas. Lavrou deste contrato escritura o tabelião Rui de Couros, em 14 de Outubro de 1504.
Baltasar Delgado de Abreu, vereador e cidadão do Porto, homem nobre, era neto do Egas Vasques e da Margarida Afonso, e sucedeu-lhes no direito à renovação do prazo da Quinta do Paço. Por isso, e atendendo, segundo dizem, a ser homem tão devoto que rezava todas as horas canónicas com os cónegos da Sé, estes fizeram-lhe novo prazo da propriedade, por escritura de 18 de Junho de 1533. Baltasar Delgado viveu nas suas casas da Rua das Flores, onde morreu a 26 de Setembro de 1593; foi casado com Isabel Anes de Brito, de quem teve, entre outros filhos, Baltasar Delgado de Abreu, o moço.
Como seu pai, foi este cidadão da governança do Porto e serviu nas armadas das Ilhas e da Costa; vivia alternadamente na Rua das Flores e em uma quinta que possuía em S. Tiago de Piães. Tinha 63 anos em 1623 e era casado com Susana Soares, de Entre-os-Rios, de quem teve, além do cónego João Soares de Abreu, o Dr. Luís Delgado de Abreu, magistrado e jurisconsulto, de quem me ocupei já nas páginas de O Tripeiro

Fonte: «Notícias do Velho Porto» de Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas

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