quarta-feira, outubro 24, 2007

VI - A Capela dos Corveiras no claustro de S. Domingos

"Disse aqui, no meu último artigo, qua as casas do «filósofo» João Rebelo Pegas, ao Padrão de Belmonte, vieram à posse da Família Matos Cerveira. Esta gente tem também a sua história intimamente ligada ao desaparecido Convento de S. Domingos.
Aleado o século XVIII, vivia no Porto o licenciado Francisco de Matos, cidadão advogado do número da Relação e senhor da Quinta da Ponte da Veiga. Era ele devoto de frades dominicanos e, à boa maneira antiga, sentindo-se talvez fundador da sua estirpe, quis perpetuar o nome em piedosa instituição. E assim determinou edificar uma capela no claustro do mosteiro «ao meio do lanço, da parte do dormitório», que elegeu para sua sepultura. A grande pedra que cobria o carneiro apareceu em 1866, quando se procediaa escavações no local onde se erguera a opulenta casa fradesca. Nela estava esculpida a seguinte inscrição, que vem reproduzida no Portugal Antigo e Moderno:

S. do lettº. Francisco de Matos
cidadão desta cidade
e advogado dos vinte da Relação
d´ella e de sua mulher
Luiza de Paiva Soares
e de seus descendentes
e sucessores desta capela
1660


Que destino teve esta pedra? Não sei, mas é provável que fosse partida em cascalho, ou ficasse nos alicerces de algum dos prédios da Rua de Ferreira Borges. Pena é que não a tivessem conservado.
O Licenciado Francisco de Matos casou-se duas vezes: a primeira mulher foi Maria Corveira de quem teve o Desembargador Domingos de Matos e Corveira; e a segunda, como dizia a lápide sepulcral, chamava-se Luísa de Paiva Soares e era viúva de João de Figueiroa.
Trouxe esta senhora a seu marido um grande dote, 8 000 cruzados, de que se lavrou escritura em 16 de Maio de 1632, Tabelião Manuel Bernardes da Cruz.
Parece que deste matrimónio não houve descendentes porque ambos, em 21 de Junho de 1657, no Porto e nas suas casas do Padrão de Belomonte, intituíram morgado a favor de seu filho e enteado, o Desembargador Domingos de Matos e Corveira, casado com D. Isabel de Almeida Alcoforado.
Este magistrado, que chegou a Desembargador dos Agravos na Relação do Porto, Juiz dos Feitos da Coroa e chancelaria dela serviu a El-Rei durante 36 anos e em serviço gastou toda a fazenda que possuía. Ele assim o declara no testamento que fizera em 28 de Janeiro de 1694; morreu na quinta da Ponte da Veiga em 24 de Setembro seguinte.
Não interessa para aqui referir a descendência dessa família, que subsiste nos Condes de Fijô, seus representantes".

Fonte: Eugénio Andrea da Cunha e Freitas " Notícias do Velho Porto"

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