sexta-feira, outubro 19, 2007

V - A Rua da Rosa

"Há em Lisboa, no Bairro Alto, a Rua da Rosa - Rua Rosa das Partilhas se chamava outrora, topónimo que ninguém, creio eu, explicou ainda de maneira convincente.
Pois no Porto também houve - decerto nem todos sabem - uma Rua da Rosa:
« Para melhor serventia e enobrecimento da cidade » El- Rei D. Manuel mandou ao bacharel João Lourenço, seu juiz de fora que então era no Porto, tomasse as providências necessárias a fim de se romper uma rua pela cerca do Convento S. Domingos, «dos arcos dos alpendres do adro, contra o poente, até à devesa do covento de S. Francisco».
Os frades determinaram então empregar os chãos que possuíam, confinantes com a nova rua, para urbanização do local. Partiram os terrenos com muros do convento, do nascente; com os enxidos dos «Benralhados» pelo poente; e ao norte com a Rua de Belomonte.
Esses chãos chamavam-se «do Patim», nome por que ficou conhecida a primeira casa da rua.
E tem a sua história, esta casa:
Dizem-nos velhos documentos do cartório de S. Domingos que, em 18 de Abril de 1523, querendo os religiosos fazer de novo o seu dormitório, destruído por um incêndio, e necessitando para tal de 100 000 réis, aforaram para sempre ao bacharel João do Avelar, seus filhos e sucessores, uma horta junto ao mosteiro, «onde El Rei D. Manuel mandara abrir uma rua que fosse até S. Francisco».
O Bacharel construiu ali umas casas nobres que depois vendeu, por escritura de 26 de Agosto de 1555, nas notas do tabelião Gaspar de Couros, a D. Fulgêncio de Bragança, comendatário de Moreira e D. Prior de Guimarães. Este, por sua vez, em 25 de Janeiro de 1556, vendeu-as a Pantaleão Ferreira, fidalgo da casa de El-Rei, administrador da Capela de Jerusalém, no mosteiro dominicano, e do vínculo do Carregal, casado com Ana de Mesquita.
Esta «Casa do Patim» devia ser notável. Refere-se-lhe, no século XVII, o beneditino Manuel Pereira de Novais, na Anacrisis Historial: « la calle de San. Juan Baptista, que và a entestar à la calle de la Ferraria nueba, y baxa de la calle de Santo Domingo por junto à las casas que llamamos del hidalgo del Patin; corre por alli abaxo, hasta donde se encuentra outra calle que viene del Padron de San Francisco, etc. »
Todas estas referências permitem-nos localizar, com relativa precisão, essa ignorada Rua da Rosa. Descendo encostada à cerca de S. Domingos, da banda do poente, era provavelmente o troço da Ferraria Nova, hoje Rua de O Comércio do Porto, compreendido entre a cerca de S. Francisco e a Rua de Belomente. O nome da Rua da Rosa, que parece subsistia ainda nos começos do século XVIII, deve ter sido absorvido pelo da Ferraria. Efectivamente, sabemos que alguns prédios, pelo menos, daquela artéria, existiam ainda em 1856, ano que se remiram os respectivos encargos enfitêuticos; devem ter desaparecido, pouco mais tarde, quando se rasgou a moderna Rua de Ferreira Borges".

Fonte: «Notícias do Velho Porto» de Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas

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