segunda-feira, outubro 29, 2007

VII - A Rua de Belomonte

"De posse da grande pedreira que o Senado lhe cedera, e se estendia encosta a cima, até à Porta do Olival, os dominicanos trataram logo de aforar chãos, para que nela se edificassem casas e abrissem novas ruas.
A Rua de Belomonte nasceu verdadeiramente nos primeiros anos do século XVI. Em 1503, os frades emprazaram trinta varas do chão «assim como pagava da escada que sobe para a Viela da Esnoga, pela Rua de Belomonte acima, da parte da Vitória» (esclarece o Tombo de 1735) ao armeiro Álvaro Gonçalves - o simpático herói do romance de Arnaldo Gama, A Última Dona de S. Nicolau - com obrigação de ele aí edificar cinco moradas de casas. Lavrou a respectiva o Tabelião Brás Francisco, em 13 de Janeiro desse ano de 1503.
Pegado com este chão, o Convento aforou ao surrador Gonçalo Gonçalves, em 22 de Maio de 1508 «um pedaço de chão que estava em grande pedraria». Deste modo, em chãos de S. Domingos se edificaram, no lado norte da Rua de Belomonte, dez moradas de casas.
Da parte do Rio Douro, a primeira casa «é a que faz a esquina defronte da capela dos nossos terceiros», esclarece ainda o mencionado Tombo. O chão fora emprazado aos Sodrés, família nobre do Porto quatrocentista, que ali edificaram sua residência; nestas casas instituiu Isabel Sodré, viúva do Tabelião Simão Sabrosa, uma capela de missas, em 14 de Dezembro de 1613.
A casa pegada a esta, construída em chão aforado também pelos dominicanos de 1503, estava vinculada a uma capela instituída por Marta Fonseca. Seguiam-se, em direcção à Rua das Taipas, e do mesmo lado de Belomonte, mais seis moradas de casas, uma das quais, a oitava, era igualmente cabeça de capela, que intituiu uma Madalena Correia, não sabemos quando.
A casa que pegava com esta (a nona, portanto) fora comprada, por escritura de 1 de Setembro de 1535, nas notas do Tabelião Brás Francisco, pelo famoso Mestre João da Paz a Mécia Afonso, viúva de João Lopes. Pertencia em 1735 a Bernardo Pita Calheiros.
O chão onde se edificou a décima morada desta parte da rua foi aforado pelo Convento em 21 de Janeiro de 1503 a Gonçalo de Braga e mulher, Maria de S. Miguel. Esta dama, já viúva, vendeu-o a Rui Pires e a Álvaro Vaz em 4 de Janeiro de 1527, lavrando a respectiva escritura o mesmo Tabelião Brás Francisco. E estes, por sua vez, venderam ao Mestre João da paz, em 6 de Novembro de 1535, o primeiro as casas que edificara, o segundo só o chão. António Leite carneiro, descendente do mestre, vendeu todo este prazo, em 1629, aos herdeiros de um Manuel de Carvalho. No ano de 1667 estavam na posse de Manuel Álvares Mourão, que vendeu tudo, por 200 000 rs., a Manuel Pacheco Pereira.
A seguir, e pegando com esta casa, fica o belo palácio que foi dos Pachecos Pereiras. Mas a história desta casa nobre, e de outras que se lhe seguem na rua, fica para outra vez."

Fonte: Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas "Notícias do velho Porto"

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